Quando
o aprendiz chega à escola (sala de aula), o mesmo trás consigo uma linguagem
própria, isto é, à sua língua materna, que às vezes é vista como ridícula por
não estar inserida dentro dos parâmetros da linguagem culta, assim passando por
diversos preconceitos linguísticos decorrente da falta de nexos próprios da
norma padrão, desse modo percebe-se divisão da língua no Brasil
em dois subsistemas distintos: uma norma culta e uma norma popular.
A
norma culta é a que as escolas estão instruídas para ensiná-las aos alunos, ao
começar suas atividades educacionais eles se deparam com um mundo estranho, na
verdade uma língua vista como “estrangeira”, pois estão acostumados a
desenvolver suas habilidades comunicativas de acordo com a sua cultura, ou
seja, o seu regionalismo e o meio ambiente que o cerca.
A
norma popular é a que todas as pessoas, inclusive o corpo discente fazem grande
uso, já que não obedece nenhum tipo de regulamento da gramática, sendo assim
livre, espontânea transmitida por meio de características sociolingüísticas
específicas, mas é considerada por alguns gramáticos e professores como a
língua dos “erros” quando na realidade os erros de português são, simplesmente,
diferenças entre variedades da língua.
...
estamos diante de diferenças e não de “erros”. A noção de “erro” nada tem de
lingüística- é um (pseudo) conceito estritamente sociocultural decorrente dos
critérios de avaliação (isto é dos preconceitos) que os cidadãos pertencentes à
minoria privilegiada lançam sobre todas as outras classes sociais.
(BORTONI-RICARDO, 2004, p.08).
Verifica-se
que no Brasil existe uma enorme diversidade de linguagem e pluralidade
cultural, provenientes das variedades regionais, visto que cada comunidade tem
sua variação lingüística (dialetos) próprios, que se encontram no mesmo âmbito:
a sala de aula, e o educador deve saber fazer uso de toda essa variação
lingüística para que os aprendizes sintam-se à vontade.
Sendo que
o corpo docente intervém na produção da oralidade dos mesmos, mas essa
interferência deve ser de forma sutil para que não ocorra desconforto e
insegurança linguística, verificando a partir desse fato que a língua não é
homogênea, por isso não pode impor um único padrão tradicional balizado em
transmitir somente às normas gramaticais da norma culta dita como “corretas”,
pois em vez de incentivar o uso das habilidades linguísticas do individuo,
deixando expressar-se livremente, para somente depois corrigir a sua escrita ou
fala, age exatamente ao contrário interrompe o fluxo natural da expressão e da
comunicação com a atitude corretiva e muitas vezes punitiva, cuja conseqüência
inevitável é a criação de um sentimento de incompetência, devido ao fato de não
obedecer à gramática normativa.
“Tentar preservar, impor e cobrar um padrão de
comportamento lingüístico, único, aristocrático e obsoleto é um projeto que se
contrapõe de maneira gritante a toda essa dinâmica da sociedade da cultura e da
língua” (BAGNO, 2002, p.39).
O status econômico de um determinado grupo
social representa diversas desigualdades (cultural, étnica, financeira, etc) o
que se reflete também uma diferença sociolinguística, na qual a escola usa e
quer ver usada a língua culta baseada na gramática que está diretamente ligada
ao poder, ou seja, à parte elitista da sociedade já que obtêm de artifícios
técnicos e linguísticos para uma boa comunicação em detrimento com a língua
materna usada pela maioria da população que às vezes perpetua a exclusão social
de milhões de brasileiros e o fracasso do rendimento escolar por não fazerem
uso constantemente da língua culta e não pertencerem à camada privilegiada, os
chamados “falantes cultos”, assim havendo uma grande disparidade entre as
classes sociais em relação a língua.
Grande
parte da responsabilidade por essa competência [da escola] deve ser atribuída a
problemas de linguagem: o conflito entre a linguagem de uma escola
fundamentalmente a serviço das classes privilegiadas, cujos padrões
lingüísticos usa e quer usados, e a linguagem das camadas populares, que essa
escola censura e estigmatiza, é uma das principais causas do fracasso dos
alunos pertencentes a essas camadas, na aquisição do saber escolar. (SOARES,
1986, p.06).
É importante compreender as relações
entre linguagem, escola e sociedade para que a língua materna de cada grupo
social seja valorizada e possa contribuir com a transformação da sociedade,
partindo do pressuposto que a escola é o principal meio para garantir a
socialização do conhecimento, acolhendo e respeitando os alunos independentes
de sua origem, quanto a variação lingüística também é de grande
responsabilidade do educador trabalhar essa diversidade refletindo sobre as
praticas pedagógicas ao que se refere ao multiculturalismo, diminuindo desse
modo a exclusão social. A língua materna sempre acompanha o seu falante, mas é
preciso que os aprendizes se conscientizem e se apropriem da variedade
lingüística padrão para colocá-las em práticas quando necessárias e serem
vistos pela sociedade como dominantes da norma culta.
Segundo Tarallo (1985, p.19), a
língua falada é o veiculo lingüístico de comunicação usada em situações
naturais de interação social que usamos em diversos âmbitos com um público
diversificado atendendo às necessidades e características de um determinado
grupo. O meio em que a pessoa está inserida também faz com que mude à sua forma de se comunicar, sendo assim a
língua modifica a partir do momento
social, é preciso adequar à fala a distintas situações para que o ato
comunicativo seja compreensivo para
todos os falantes envolvidos.
[1]
Recebe esse nome devido o costume que só as mães eram as responsáveis pela
educação dos filhos, sendo as pioneiras em transmitir os meios para a aquisição
da linguagem.
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguistico: O que é, como
se faz. 49 ed. São Paulo: Loyola, 1999.
_______ Língua Materna: Letramento, Variação e Ensino. São
Pulo: Parábola editorial, 2002.
BORTONI-RICARDO,
Stella Maris.Educação em Língua Materna:
A sociolinguistica em Sala de Aula. São Paulo: Parábola editorial, 2004
FREIRE,Paulo.
A Educação como Prática da liberdade. 23ª. Ed.Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1999.
SOARES, Magda. Linguagem e Escola: Uma Perspectiva
Social. 3 ed. São Paulo: Ática, 1986.
TARALLO, Fernando. A Pesquisa Sociolinguistica. São Paulo:
Ática, 1985.96p.
Muito gratificante esse texto!
ResponderExcluir