terça-feira, 17 de abril de 2012

A aprendizagem da língua materna


               A língua materna[1] ou nativa é aprendida antes do inicio da escolarização é adquirida pela criança por volta do primeiro ano de vida, na verdade é a língua que primeiro se tem contato e é usada de acordo com os ensinamentos obtidos, pode-se dizer também que o aluno faz uso da língua materna, porque esta é a base de todos os conhecimentos apreendidos durante toda sua vida.
Quando o aprendiz chega à escola (sala de aula), o mesmo trás consigo uma linguagem própria, isto é, à sua língua materna, que às vezes é vista como ridícula por não estar inserida dentro dos parâmetros da linguagem culta, assim passando por diversos preconceitos linguísticos decorrente da falta de nexos próprios da norma padrão, desse modo percebe-se divisão da língua no Brasil em dois subsistemas distintos: uma norma culta e uma norma popular.
A norma culta é a que as escolas estão instruídas para ensiná-las aos alunos, ao começar suas atividades educacionais eles se deparam com um mundo estranho, na verdade uma língua vista como “estrangeira”, pois estão acostumados a desenvolver suas habilidades comunicativas de acordo com a sua cultura, ou seja, o seu regionalismo e o meio ambiente que o cerca.
A norma popular é a que todas as pessoas, inclusive o corpo discente fazem grande uso, já que não obedece nenhum tipo de regulamento da gramática, sendo assim livre, espontânea transmitida por meio de características sociolingüísticas específicas, mas é considerada por alguns gramáticos e professores como a língua dos “erros” quando na realidade os erros de português são, simplesmente, diferenças entre variedades da língua.
... estamos diante de diferenças e não de “erros”. A noção de “erro” nada tem de lingüística- é um (pseudo) conceito estritamente sociocultural decorrente dos critérios de avaliação (isto é dos preconceitos) que os cidadãos pertencentes à minoria privilegiada lançam sobre todas as outras classes sociais. (BORTONI-RICARDO, 2004, p.08).
            Verifica-se que no Brasil existe uma enorme diversidade de linguagem e pluralidade cultural, provenientes das variedades regionais, visto que cada comunidade tem sua variação lingüística (dialetos) próprios, que se encontram no mesmo âmbito: a sala de aula, e o educador deve saber fazer uso de toda essa variação lingüística para que os aprendizes sintam-se à vontade.
            Sendo que o corpo docente intervém na produção da oralidade dos mesmos, mas essa interferência deve ser de forma sutil para que não ocorra desconforto e insegurança linguística, verificando a partir desse fato que a língua não é homogênea, por isso não pode impor um único padrão tradicional balizado em transmitir somente às normas gramaticais da norma culta dita como “corretas”, pois em vez de incentivar o uso das habilidades linguísticas do individuo, deixando expressar-se livremente, para somente depois corrigir a sua escrita ou fala, age exatamente ao contrário interrompe o fluxo natural da expressão e da comunicação com a atitude corretiva e muitas vezes punitiva, cuja conseqüência inevitável é a criação de um sentimento de incompetência, devido ao fato de não obedecer à gramática normativa.
“Tentar preservar, impor e cobrar um padrão de comportamento lingüístico, único, aristocrático e obsoleto é um projeto que se contrapõe de maneira gritante a toda essa dinâmica da sociedade da cultura e da língua” (BAGNO, 2002, p.39).
                        O status econômico de um determinado grupo social representa diversas desigualdades (cultural, étnica, financeira, etc) o que se reflete também uma diferença sociolinguística, na qual a escola usa e quer ver usada a língua culta baseada na gramática que está diretamente ligada ao poder, ou seja, à parte elitista da sociedade já que obtêm de artifícios técnicos e linguísticos para uma boa comunicação em detrimento com a língua materna usada pela maioria da população que às vezes perpetua a exclusão social de milhões de brasileiros e o fracasso do rendimento escolar por não fazerem uso constantemente da língua culta e não pertencerem à camada privilegiada, os chamados “falantes cultos”, assim havendo uma grande disparidade entre as classes sociais em relação a língua.   
Grande parte da responsabilidade por essa competência [da escola] deve ser atribuída a problemas de linguagem: o conflito entre a linguagem de uma escola fundamentalmente a serviço das classes privilegiadas, cujos padrões lingüísticos usa e quer usados, e a linguagem das camadas populares, que essa escola censura e estigmatiza, é uma das principais causas do fracasso dos alunos pertencentes a essas camadas, na aquisição do saber escolar. (SOARES, 1986, p.06).  
            É importante compreender as relações entre linguagem, escola e sociedade para que a língua materna de cada grupo social seja valorizada e possa contribuir com a transformação da sociedade, partindo do pressuposto que a escola é o principal meio para garantir a socialização do conhecimento, acolhendo e respeitando os alunos independentes de sua origem, quanto a variação lingüística também é de grande responsabilidade do educador trabalhar essa diversidade refletindo sobre as praticas pedagógicas ao que se refere ao multiculturalismo, diminuindo desse modo a exclusão social. A língua materna sempre acompanha o seu falante, mas é preciso que os aprendizes se conscientizem e se apropriem da variedade lingüística padrão para colocá-las em práticas quando necessárias e serem vistos pela sociedade como dominantes da norma culta.
            Segundo Tarallo (1985, p.19), a língua falada é o veiculo lingüístico de comunicação usada em situações naturais de interação social que usamos em diversos âmbitos com um público diversificado atendendo às necessidades e características de um determinado grupo. O meio em que a pessoa está inserida também faz com que mude à  sua forma de se comunicar, sendo assim a língua  modifica a partir do momento social, é preciso adequar à fala a distintas situações para que o ato comunicativo seja compreensivo para  todos os falantes envolvidos. 


[1] Recebe esse nome devido o costume que só as mães eram as responsáveis pela educação dos filhos, sendo as pioneiras em transmitir os meios para a aquisição da linguagem.
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguistico: O que é, como se faz. 49 ed. São Paulo: Loyola, 1999.
_______ Língua Materna: Letramento, Variação e Ensino. São Pulo: Parábola editorial, 2002.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris.Educação em Língua Materna: A sociolinguistica em Sala de Aula. São Paulo: Parábola editorial, 2004 
FREIRE,Paulo.  A Educação como Prática da liberdade. 23ª. Ed.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
SOARES, Magda. Linguagem e Escola: Uma Perspectiva Social. 3 ed. São Paulo: Ática, 1986.
TARALLO, Fernando. A Pesquisa Sociolinguistica. São Paulo: Ática, 1985.96p.

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